Novo Acordo Ortográfico em vigor
Depois de impasses e discussões, o Novo Acordo Ortográfico, finalmente, está valendo. A unificação começou a ser discutida em 1990 e desde 2009 está em vigor, porém, sem obrigatoriedade. O prazo foi sendo estendido para que todos pudessem se adequar. As mudanças que, para muitos brasileiros, são desnecessárias, surgiram na tentativa de simplificar a língua portuguesa e unificar as regras do idioma no Brasil, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Portugal, Angola, Guiné-Bissau, Moçambique e Timor Leste. Apesar dos impasses, é necessário reconhecer que a padronização facilita a integração entre esses países, seja ela comercial, cultural ou científica.
Ao contrário do que muitos pensam, as mudanças também atingiram as outras nações, sendo que algumas delas tiveram mais alterações que por aqui. No Brasil, 2 mil palavras mudaram, ou seja, 0,5% do total. Já em Portugal cerca de 10 mil termos foram modificados, o que corresponde a 1,5%.
Porém, quando se fala em novo acordo, é um equívoco pensar em novas estruturas de palavras estáticas, homogêneas e fixas, como se as regras fossem mais soberanas que a manipulação da língua por seus falantes. A medida altera apenas a ortografia de alguns termos e não suas pronúncias: o uso diário da língua é muito mais complexo porque ela, como forma de expressão do pensamento que emerge de operações mentais bastante complexas e possibilita a comunicação falada entre os seres humanos (não só no caso da língua portuguesa, mas em qualquer outra) muda em função do tempo e da maneira que os sujeitos a utilizam e não por meio de acordos e regras engessadas. Isso acontece principalmente no Brasil, cuja a própria complexidade territorial e cultural abre espaço para regionalismos e modos de falar peculiares, a depender do estado em que a pessoa vive.
Mas, então, porque nós, brasileiros, precisamos dessas regras? Porque se a língua é dinâmica, ela vai sofrer alterações e precisamos ter consciência disso. Antigamente, a palavra farmácia era escrita com PH e para se referir a alguém como VOCÊ se dizia VOSSA MERCÊ. Inclusive, este foi o terceiro acordo realizado. Uma coisa é a língua falada, informal, coloquial, adequada a certos objetivos de comunicação, como em uma conversa ao telefone, ou um bate papo nas redes sociais. Outra, é a língua escrita, culta, padrão, extremamente necessária a certos momentos e ambientes, como no trabalho por exemplo, quando é preciso produzir um documento formal, um relatório, uma ata de reunião ou um memorando.
Assim, o que se conclui é que precisamos aceitar as mudanças, porém, entendendo que sua imposição não pode alterar o uso da língua pelas comunidades. Desta forma, a dica para internalizar as novidades é ir aprendendo as novas regras aos poucos, tentar compreendê-las e não apenas decorá-las. Devagar, chegaremos lá!
Confira as principais mudanças:
ACENTO AGUDO
Deixa de existir nos ditongos (encontro de duas vogais em uma só sílaba) abertos “ei” e “oi” das palavras paroxítonas (que têm a penúltima sílaba pronunciada com mais intensidade).
idéia = ideia
heróico = heroico
As oxítonas (com acento na última sílaba) e os monossílabos tônicos terminados em “éi”, “éu” e “ói”, no singural e plural (papéis, céu e herói) continuam com acento.
Desaparece nas paroxítonas com “i” e “u” tônicos que formam hiato (sequência de duas vogais que pertencem a sílabas diferentes) com a vogal anterior, que, por sua vez, faz parte de um ditongo.
feiúra = feiura
As vogais “i” e “u” continuam a ser acentuadas se formarem hiato, mas estiverem sozinhas na sílaba ou seguidas de “s” (baú e baús) ou, em oxítonas, se forem precedidas de ditongo e estiverem no fim da palavra (tuiuiú).
ACENTO CIRCUNFLEXO
– Não é mais usado nas palavras terminadas em “oo”.
vôo = voo
enjôo = enjoo
Também desaparece o circunflexo na conjugação da terceira pessoa do plural do presente do indicativo dos verbos crer, ler, ver e derivados.
crêem = creem
Observação: nada muda na acentuação dos verbos ter e vir e dos seus derivados.
ACENTO DIFERENCIAL
Nos casos abaixo, não é mais usado para facilitar a identificação de palavras homófonas, ou seja, que têm a mesma pronúncia.
pára (forma verbal) e para (preposição)
– pelo (preposição + “o”) e pêlo (substantivo)
Apenas duas palavras continuarão recebendo o acento diferencial:
– Pôr (verbo) mantém o circunflexo para que não seja confundido com a preposição por.
– Pôde (verbo conjugado no passado) também mantém o acento para que não haja confusão com pode (o mesmo verbo no presente).
TREMA
– É eliminado, mas a pronúncia continua a mesma.
lingüiça = linguiça
tranqüilo = tranquilo
O o sinal foi mantido em nomes próprios de origem estrangeira, bem como em seus derivados (como em Müller e mülleriano).
HÍFEN
Deixa de ser empregado quando o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa com as consoantes “s” ou “r”. A consoante, então, passa a ser duplicada.
antirreligioso
Caiu nos casos em que o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa com outra diferente.
autoescola
Foi incluído nos casos em que o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa com a mesma vogal.
micro-ondas
Ele se mantém quando o prefixo termina com “r” e o segundo elemento começa com a mesma letra, como em super-reflexivo.